O discurso político é parte da ação política. Não a substitui, mas complementa-a, explicando-a e procurando torná-la percetível e aceite aos olhos dos cidadãos.
Quando se exerce funções políticas, a regra (não escrita) é assumir um discurso afirmativo, com escassas dúvidas, transmitindo confiança às pessoas. Parte-se do princípio de que, perante a insegurança e as dúvidas naturais das pessoas, em face de situações que abalem o seu quotidiano, cabe aos dirigentes políticos oferecer uma direção, dar a ideia de que as coisas estão "em boas mãos". Se o cidadão delegou em alguém o exercício da autoridade e da gestão do Estado, é importante que esse mesmo cidadão, ao olhar para quem titula o Estado, encontre razões para atenuar por as suas eventuais inseguranças, ao ver que a governação aponta um caminho em que ele acredita.
Em tese, as coisas são assim. Mas a eficácia do discurso, junto de quem o ouve, nem sempre é garantida. Desde logo, isso acontece se alguns dos titulares políticos, na perceção própria de cada cidadão ou que nele foi induzida por setores críticos, perderam entretanto a imagem de um portador da confiança. Por maior simpatia que Constança Urbano de Sousa me mereça - e merece-me muita - tenho a sensação de que, perante a opinião pública portuguesa, hoje acontece isso com ela.
A segunda marca de um discurso ineficaz é a que é dada por uma afirmação de segurança que a realidade não acompanha. Azeredo Lopes foi, para mim, uma surpresa bastante positiva à frente da pasta da Defesa. Porém, o modo como tem reagido ao escandaloso roubo de armamento em Tancos é, a meu ver, menos adequado. Perante um país mergulhado em fortes dúvidas sobre a capacidade das Forças Armadas em guardarem as suas instalações, entendo que o ministro não deve e não pode assumir um tom "neutro", cheio de rigor "técnico", um fácies impassível.
O ministro deveria ter acompanhado o sentimento coletivo, deveria ter-se indignado. A emoção faz parte da política: o cidadão que (como eu) se sente encandalizado perante a bandalheira a que (pelos vistos!) chegou a segurança dos paióis militares, quer ter um ministro a partilhar a sua indignação, solidário com o seu espanto, em sintonia com a sua exigência de responsabilidades, perante uma omissão que tem graves efeitos reputacionais na imagem do país.
O discurso, para ser eficaz, tem de ser credível. Às vezes, isso é injusto para a qualidade objetiva dos agentes políticos - como me parece, aliás, ser o caso -, mas é a vida!